quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Encontro discute a influência da mídia

No último dia seis de novembro uma palestra dentro da Terceira Semana Universitária, da Unef – Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana, discutiu a relação entre a predominância da mídia no processo da violência urbana. Promovida pelos alunos da Disciplina de Laboratório de Notícias, a palestra foi coordenada pela Professora Marly Caldas e, além de Jornalismo, contou com a presença de alunos de outros cursos da instituição. Dois palestrantes foram convidados para o evento. O Professor de Sociologia, Ciências Políticas e Antropologia, Hermógenes Moura da Costa e o Cineasta Márcio Pérsico. Antes da discussão do tema foi feita a exibição do filme “Notícias de uma Guerra Particular”, um documentário que retrata o cotidiano dos moradores e traficantes do morro da Dona Marta, no Rio de Janeiro. Dirigido por João Moreira Sales e Kátia Lund, “Notícias de uma Guerra Particular” é o resultado de dois anos de entrevistas, entre 1997 e 1998. O trabalho trás personagens que de alguma forma estão envolvidos ou convivem de perto com a rotina do tráfico. Um garoto de dez anos que diz sentir prazer em estar perto da morte, um policial que confessa sentir orgulho em matar e crianças que sabem de cor nomes de diversos tipos de armas, são algumas cenas desconcertantes do documentário. Ao final da exibição, as discussões e os debates estiveram centrados na seguinte questão: existe ou não uma relação entre a predominância da violência na programação da televisão, nos sites da Internet e a tendência para a agressividade de jovens e adultos? O Cineasta Márcio Pérsico considerou que a programação e os noticiários veiculados pela mídia são fatores que contribuem para a banalização da violência. Pérsico salientou ainda, que a mídia planeja sua programação direcionada pelos seus interesses, e em sua maioria voltadas para o aumento da audiência. “Vivemos a era da ditadura comercial, onde propagandas promovem o consumo e programas de televisão valorizam padrões de vida de nível sócio-econômico elevado”, disse Márcio Pérsico. Já o Professor Hermógenes lembrou que a sociedade é marcada pelas desigualdades sociais e pelos conflitos urbanos que originam a criminalidade. Ele também considerou ter a mídia um papel relevante no aumento da violência urbana. “Os noticiários parecem ter a pretensão de nos provar que a violência é algo normal, banal”, disse Hermógenes. Mas o professor também destacou que os próprios veículos de comunicação de massa podem ajudar a mudar esta realidade. “Além do papel do Estado que deve investir em habitação, saneamento, emprego e lazer, a mídia precisa denunciar e apontar soluções para conter a escalada da criminalidade que assola o país”, finalizou Hermógenes destacando ainda que na maioria das vezes os noticiários não apenas dão uma visão objetiva dos fatos, como exageram e dramatizam na cobertura do episódio violento. No encerramento a professora Marly Caldas disse reconhecer que a mídia acaba mesmo ancorando em fatos dramáticos como o da estudante Eloá Pimentel para mexer com o imaginário da sociedade, visando audiência e lucros, o que resulta numa banalização da informação. “Mas não acredito que não haja uma luz no fim do túnel. Sou otimista e acho que esta mesma mídia que superexplora crimes violentos contra a sociedade, pode também trabalhar na erradicação da violência”, destacou Marly finalizando que para isso é preciso que os profissionais assumam o seu papel responsável de trazer e revelar soluções para os problemas que afligem a população.

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