terça-feira, 25 de novembro de 2008

“Moço, me dá um trocado?”

A situação é propagada em quase todas as cidades brasileiras. Nos centros comerciais, a muvuca de transeuntes e de automóveis é compartilhada com menores de idade que pedem esmolas nos semáforos das cidades. Em busca de um trocado vale fazer malabares, cambalhotas ou mesmo uma simples pergunta: “Me dá uma moeda moço”? Se por um lado a necessidade e a desigualdade social envergonha o país, por outro, a ousadia virou profissão através da exploração infantil. Estar como maltrapilho nas calçadas nem sempre representa sinônimo de miséria. Casos já foram registrados nas capitais dos estados de São Paulo, Pernambuco e Ceará, de supostos miseráveis que aproveitam da boa vontade daqueles que pensam em ajudar, dando alguns centavos a alguém. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) são 56,9 milhões de pobres no Brasil, sendo 24,7 milhões de pessoas na extrema pobreza e mais de 50% das crianças brasileiras com até dois anos de idade encontram-se na linha da pobreza. Apesar de ser um país economicamente rico, a realidade brasileira é vergonhosa. Um fato bárbaro em Feira de Santana, na Bahia, é o caso Solange. Ela é moradora do bairro Bem-te-vi, periferia da cidade. Todos os dias, ela e os netos estão prostrados em frente à Igreja Senhor dos Passos fazendo mendicância. Quem não conhece a história se compadece. Mas na verdade ela criou as filhas e hoje cria os netos nas ruas da cidade pedindo dinheiro a quem passa. Porém, algo preocupante assombra esta história. Várias tentativas já foram realizadas para tentar retirá-la de lá, mas Solange se recusa a abandonar o ganha pão. E o motivo é simples. Ela lucra com a piedade das pessoas. Além de receber auxílios do governo como o Bolsa Família, na casa dela é possível encontrar uma televisão de 29 polegadas e uma dispensa cheia de alimentos. De acordo com a coordenadora do Programa de Políticas Integradas (PPI), Magna Araújo, até uma casa foi oferecida a Solange para ela deixar as ruas, mas a mesma se recusou. Porquê? Porque ela chega a lucrar até 30 reais por menino pedinte em um dia. As informações obtidas mostram como a falta de respeito com o Estatuto da Criança e do Adolescente fere os direitos constitucionais destes pequenos brasileiros que são obrigados a ‘trabalharem’ de forma incorreta e vergonhosa para a nação. Com os pés no chão, roupas sujas para sensibilizar e sem jeito para fazer uma arte circense, as crianças têm seus direitos usurpados pela idoneidade desumana. Há denúncias que até dopar os mais novos ela faz para dizer que estão dormindo no colo. E ainda, ela aluga os filhos das vizinhas por dez ou quinze reais para pedir esmola. Como diz o jornalista Boris Casoy, “isto é uma vergonha”. Se o futuro do Brasil são as crianças, o que esperar do país daqui a 20 anos. Atualmente a situação já é precária. E eis a pergunta: pode piorar? Ou aonde vamos parar? Prostituição, desigualdade, miséria, corrupção. São tantos os problemas diagnosticados sem nenhuma solução plausível e exeqüível para a nação que, quando comemorou os 500 anos do descobrimento, comemorou ao som de Pelé e várias crianças protagonizando uma canção que dizia que o “Brasil parece um coração” ou “É uma grande nação” e ainda: “O melhor lugar para viver é aqui”. Um trocadilho seria substituir o verbo protagonizar pelo agonizar de uma República falida socialmente. Hipocrisias à parte, a corrupção brasileira está no caráter de alguns de seus filhos, pois, como diz o Hino Nacional “Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada Brasil!”. Por um lado ainda existem aqueles que acreditam na resolução desta e outras chagas nacionais. E enquanto isso não ocorre, cabe a nós conviver com este câncer chamado desigualdade social.

Nenhum comentário: